A Política da Nostalgia

The Politics of Nostalgia · Tradução de Robson da Silva
· 8 minutos de leitura

Por que a esquerda quer que voltemos no tempo?

Um dos desenvolvimentos mais curiosos nos últimos anos foi a nostalgia da esquerda pela economia da década de 1950.

Os políticos progressistas geralmente não se apresentam como “do lado certo da história” – representando, como o termo sugere, a marcha do “progresso”?

Não quando se trata de economia.

Paul Krugman escreveu várias colunas ao longo da última década sobre como as coisas eram melhores em meados do século 20. Mais recentemente, temos a presidenciável Hillary Clinton fazendo uma grande declaração de política econômica no qual ela anseia por uma época como a década de 1950, quando os trabalhadores tinham a estrutura do mundo corporativo e sindicatos para fazer lobby e negociar salários e benefícios, ao invés da chamada economia “gig” de tantos funcionários freelance modernos, tais como motoristas de Uber. “Esta economia sob demanda ou economia gig está criando grandes oportunidades e desencadeando inovação”, Clinton disse, “mas também está levantando questões importantes sobre proteção do local de trabalho e como será um bom emprego no futuro”.

Para proteger os americanos de um futuro incerto, Clinton prometeu que iria “reprimir os patrões que exploram os funcionários, ao classificá-los erroneamente como contratados ou até mesmo roubando seus salários”.

Em uma economia em que a tecnologia permitiu que as pessoas tivessem mais flexibilidade em seus dias de trabalho e independência em suas escolhas de trabalho, agora são os “progressistas” que estão reclamando sobre as organizações econômicas que tem sido agentes de um uso mais eficaz de recursos, expandindo a escolha para trabalhadores e de bens mais baratos para consumidores.

Em resumo, os progressistas estão reclamando sobre o que de outra forma seria chamado de progresso.

E não sejamos os conservadores desta história, à medida que eles demonstram sua própria nostalgia por uma economia do passado, com aplausos para os discursos anti-imigração e anticomércio de Donald Trump e por seu amor geral por políticas dirigistas. A imigração e o comércio também expandiram o grau de trabalho disponível, tiraram milhões da pobreza através de empregos com melhores salários nos Estados Unidos, e enriqueceram o resto de nós através de bens e serviços mais acessíveis.

O que é particularmente engraçado sobre os dois lados, mas especialmente sobre os progressistas, é como eles estão errados sobre a vida do americano médio ter sido melhor nos anos 50, incluindo como eles eram mais seguros. Em um ótimo artigo para o Instituto Cato, Brink Lindsey efetivamente destrói a nostalgia de Krugman com alguns dados sobre a economia da década de 1950. Ele salienta que o aumento na desigualdade de renda desde aquela época, destacada por muitos progressistas, é amplamente exagerada, e que a economia que eles são tão nostálgicos restringia a competição de várias formas, principalmente para o benefício dos influentes politicamente. Os limites na imigração e no comércio, em especial, evitou que a economia da década de 1950 alcançasse as reduções no custo e o aumento na variedade que associamos com nossa economia atualmente.

É ainda mais irônico que os progressistas modernos são nostálgicos pela economia que o candidato republicano, Donald Trump, parece querer recriar.

Como argumentei em um artigo recente, quando analisamos o custo de vida em termo das horas trabalhadas necessárias para comprar itens caseiros básicos, a maioria dos bens e serviços está bem mais barato hoje em comparação à década de 1950. O equivalente àqueles itens hoje também tem melhor qualidade: compare a TV ou a geladeira típica de 1955 com a de 2015. Essas diminuições substanciais em custo tiveram outro efeito. Elas tornaram estes bens cada vez mais acessíveis para os americanos mais pobres. As famílias americanas abaixo da linha da pobreza são bem mais propensas a ter toda uma variedade de itens em suas casas do que as famílias pobres na década de 1950. Na verdade, eles são mais propensos a ter essas coisas em suas casas do que uma família americana de classe média nos anos 70.

Quando você também considera o número de bens que não estavam disponíveis nos anos 70 ou 50, de tecnologia como computadores e smartphones, a procedimentos médicos e medicina inovadora, a várias formas de entretenimento, a um número enorme de invenções que nos tornaram mais seguros, saudáveis e com maior longevidade, é difícil argumentar que as coisas eram melhores “antigamente”.

O efeito de toda essa mudança gerada pelo aumento da competição é que em nosso mundo as classes média e pobre estão melhores, e a diferença entre pobres e ricos, medida pelo que eles consomem, diminuiu substancialmente.

Alguém realmente quer voltar ao mundo estagnado, conformista e mais pobre da década de 1950?

Os políticos querem. E aqui está um dos motivos: antigamente, era mais fácil influenciar e controlar a vida econômica das pessoas. Os progressistas com o desejo de moldar sua economia ideal não estão satisfeitos com o mundo de freelancers, Uber, e contratados independentes.

A economia das décadas de 1950 e 1970 tinha pontos focais organizacionais onde políticos podiam exercer poder e portanto influenciar as vidas de um grande número de cidadãos.

Estou pensando aqui nas empresas automobilísticas nos anos 50, nas empresas petroleiras nos anos 70, e qualquer indústria em que grandes empresas foram criadas por restrições à concorrência interna e externa, que eram pontos fáceis de contato para políticos com um desejo de controle, e que tinham líderes corporativos que estavam felizes em colher os benefícios do corporativismo.

Em um mundo de Uber, Airbnb, e todo o resto, não há pontos centrais de influência. O Facebook não produz conteúdo, o Uber não possui carros, o Alibaba não possui inventário. Mais importante: o Uber não tem empregados, apenas contratantes. Se você for Clinton ou Trump, ou mesmo Krugman, não há para onde ir exercitar seu poder ou angariar apoio de trabalhadores em um só lugar. Não há nada para se agarrar. Há apenas pessoas negociando pacificamente umas com as outras, enriquecendo a todos no processo.

A verdadeira ironia, mais uma vez, é que essa economia descentralizada produziu mais liberdade e mais flexibilidade para mais trabalhadores. Os mesmos progressistas que protestaram contra o conformismo da década de 1950, uma década depois, agora sentem nostalgia pelo que seus predecessores rejeitaram e estão rejeitando exatamente o ethos “faça você mesmo” pelos quais seus heróis da década de 1960 lutaram.

A economia “gig” funciona para pessoas que querem opções e que querem horários flexíveis para que possam fazer uma chamada no resto do dia. Ou talvez eles queiram passar algumas horas por semana dirigindo um Uber porque Obamacare fez com que seus empregadores tiveram que cortar suas horas no outro emprego.

Seja qual for o motivo, esta economia oferece a liberdade e a flexibilidade para os trabalhadores, e os benefícios para os consumidores, que representam o progresso que os progressistas deveriam amar. O fato dos progressistas (e conservadores) com poder estarem lutando contra isso diz que eles estão muito mais preocupados com o poder do que com o progresso.

A nostalgia é uma base perigosa para se fazer política, seja ela de esquerda ou de direita.