O Mito do Eleitor Racional

The Myth of the Rational Voter · Tradução de Giácomo de Pellegrini
· 31 minutos de leitura

Há uma eleição à vista. Será que os eleitores sabem o que estão fazendo? De acordo com o economista comum – e vários cientistas políticos – a resposta é “Não, mas isso não importa.” Como isso poderia não importar? O principal argumento é que os erros do público se anulam mutuamente.1 Por exemplo, algumas pessoas subestimam os benefícios da imigração, e outras superestimam os benefícios. Porém, enquanto a crença do eleitor médio for a verdadeira, os políticos ganham ao promover políticas imigratórias baseadas em fatos.

Essa história é boa de se ouvir, mas será que ela é correta? Será que as crenças do eleitor médio são verdadeiras? Em meu livro The Myth of the Rational Voter (O Mito do Eleitor Racional), lançado pela Princeton University Press, analiso uma grande quantidade de evidências e concluo que, definitivamente, a resposta é “não”. Como mariposas em torno de uma lâmpada, os eleitores gravitam em torno de alguns enganos. E seus erros não se anulam: eles se combinam.

Em meu livro, e nesse ensaio, concentro-me nos enganos do público em relação à economia. Em parte, faço isso por ser economista, porém, principalmente, faço-o porque a economia é um exemplo bem claro de um assunto que é politicamente importante (“It’s the economy, stupid”), mas que é ainda pouco compreendido. Desconfio que os erros dos eleitores estendem-se para muito além da economia. Já existem provas convincentes de que a maior parte do público possui crenças pouco fundamentadas a respeito de toxicologia e câncer.2 Em política externa, igualmente, temos o efeito “reunião em torno da bandeira” (rally round the flag effect), a tendência do público de apoiar guerras assim que são declaradas. Mas mesmo que o eleitor médio compreendesse cada assunto não-econômico, os enganos sobre a economia, por si só, já seriam um problema sério para a democracia.

Identificando os enganos

Suponha que um acadêmico defenda que a crença dos eleitores em relação a X seja verdadeira, e outro negue essa afirmação. Para esse debate fazer sentido, ambos os lados devem afirmar possuir conhecimento sobre (a) o que o eleitor médio acredita, e (b) qual crença é a correta. Como podemos compreender esse tipo de disputa?

É bem fácil compreendermos no que o eleitor médio crê. Existe fartura de boas pesquisas. A parte difícil é compreendermos como “ranquear” as crenças do eleitor médio – encontrar uma régua com a qual suas crenças podem ser medidas. A National Survey of Public Knowledge of Welfare Reform and the Federal Budget descobriu, por exemplo, que 41% dos americanos acreditam que as ajudas externas compõem uma das duas maiores áreas do orçamento federal – contra 14% que acreditam ser a seguridade social.

A principal desvantagem dessa abordagem é que várias questões importantes são complexas demais para serem solucionadas com um almanaque. Mas existe outro espelho a ser levantado para a opinião pública. Nós podemos localizar pessoas que possuem maiores chances de saber a resposta correta, ver o que elas pensam, e então checar se o público concorda. Mas quem poderiam ser essas pessoas? Os candidatos mais óbvios seriam os especialistas.3

Para verificar se as crenças do eleitor médio sobre os efeitos econômicos da imigração estão corretas, por exemplo, você pode perguntar coisas ao público em geral e aos economistas profissionais e ver se, em média, eles concordam. Esse teste é infalível? Não. Os especialistas já erraram. Mas é difícil driblarmos a forte presunção de que, se os especialistas e os homens comuns discordam, os especialistas provavelmente estão certos e os homens comuns estão errados. E, mais importante, se você tem alguma razão específica para duvidar da objetividade dos especialistas, você pode tentar controlar isso. Se você acredita que os bons salários dos economistas influenciam suas crenças, por exemplo, você pode verificar se os homens comuns e os especialistas concordam após termos ajustados suas rendas.

Foi exatamente essa a abordagem que usei para analisar o melhor conjunto de dados disponível sobre as crenças econômicas, a Survey of Americans and Economists on the Economy. A descoberta principal foi que os economistas e o público em geral têm crenças completamente diferentes em relação à economia.4 Comparados aos especialistas, os homens comuns são bem mais céticos em relação aos mercados, especialmente o mercado internacional e de trabalho, e bem mais pessimistas em relação ao passado, o presente e o futuro da economia. Onde uma pessoa comum vê uma conspiração das empresas, os economistas veem oferta e demanda. Onde uma pessoa comum vê declínio, os economistas veem progresso.5

Enquanto os críticos dos economistas gostam de atribuir esses padrões à sua influência, à segurança em seus empregos e às suas ideologias de direita/esquerda, os fatos dizem outras coisas. Controlando a renda atual, o crescimento da renda, a segurança em seus trabalhos, gênero e raça, reduzimos apenas suavemente a distância entre os economistas e os homens comuns. E, já que o economista típico é na verdade um democrata moderado, controlar a identificação partidária e a ideologia faz a diferença entre eles aumentar. Os economistas acreditam que os mercados funcionam bem não por terem uma ideologia de extrema direita, mas apesar de sua ideologia levemente esquerdista.

Segundo certo ponto de vista, essas descobertas não deveriam nos surpreender. Desde o tempo de Adam Smith, senão um pouco antes, os economistas têm reclamado que a política econômica se baseia em concepções errôneas e tentam fazer alguma diferença corrigindo os preconceitos de seus alunos contra os mercados, o comércio internacional, etc. Os economistas preservam essa tradição até hoje quando dão aulas a universitários, escrevem para o público em geral ou conversam entre si. Entretanto, nas últimas décadas, a pesquisa econômica construiu uma compreensão contrária, segundo a qual as concepções dos eleitores seriam as verdadeiras. O que surpreende em meus resultados é que comparo uma visão econômica tradicional contra as pesquisas econômicas recentes, e a visão tradicional vence.6

O que as ideias erradas podem fazer

Os cientistas políticos quase sempre criticam os economistas por suporem que os eleitores sejam egoístas. Os dados, em conjunto com minha experiência pessoal, convenceram-me que os cientistas políticos estão certos. Não importa o quanto se sabe a respeito dos interesses materiais dos eleitores, ainda sim é difícil prever como votarão.7 Em contraste, se você sabe como um eleitor pensa ser o melhor para a sociedade, você pode contar que votará de acordo.

Apesar disso, antes que consigamos deduzir quais as melhores políticas para a sociedade que realmente prevalecerão, nós temos que adicionar exatamente a suposição que estou contestando: que as crenças do eleitor médio sejam verdadeiras. Se suas crenças são falsas, as suas boas intenções o levam a apoiar políticas que não sejam as mais adequadas e que, possivelmente, sejam verdadeiramente ruins.8

Considere o caso das políticas imigratórias. Os economistas são bem mais otimistas em relação aos seus efeitos econômicos do que o público em geral. A Survey of Americans and Economists on the Economy perguntou ao público se a existência de “imigrantes demais” seria uma razão que teria muita influência, pouca influência ou não teria influência alguma em relação ao fato de a economia não estar tão bem quanto poderia estar. Entre os não economistas, 47% acreditam que a imigração tem muita influência, enquanto 80% dos economistas acreditam que não existe influência alguma. Os economistas têm várias razões para possuir opinião tão diferente: eles sabem que a especialização e o comércio enriquecem tanto os americanos quanto os imigrantes; que existe pouca evidência de que a imigração realmente reduza a renda mesmo dos americanos com poucas qualificações; e, já que os imigrantes são, em sua maioria, jovens do sexo masculino, e já que a maior parte dos programas governamentais apoia as mulheres, os idosos e as crianças, os imigrantes acabam pagando mais em impostos do que recebem em benefícios.9

Dado o que um eleitor médio pensa acerca dos efeitos da imigração, é fácil compreendermos porque quase toda pesquisa descobre que a grande maioria dos americanos deseja reduzir a imigração, e quase ninguém deseja aumentá-la. Infelizmente, tanto para os americanos quanto para os imigrantes em potencial, há muitas razões para acreditarmos que o eleitor médio esteja enganado. Se a política fosse baseada em fatos, os americanos estariam debatendo agora como aumentar a imigração, ao invés de tentarem “endurecer” com os imigrantes que já estão no país.

Não preciso nem dizer que não espero que algum político proeminente vá ler esse artigo e tornar pública a sua mudança de posição em relação à imigração. A democracia é uma competição de popularidade. Se o eleitor médio acredita que menos imigrantes é melhor para a sociedade, a democracia recompensa os políticos que se opõem à imigração. Isso não significa, necessariamente, que os detentores de cargos públicos estimulam os preconceitos da população. Os nossos líderes devem ter chegado ao topo do jogo político porque, sinceramente, compartilham dos preconceitos do público. Entretanto, independente do que acontece nas mentes e corações dos políticos, devemos esperar que a democracia dê ouvidos ao eleitor médio, mesmo quando está errado. A evidência empírica indica que quase sempre está.

Como as ideias erradas persistem

A maior parte dos enganos econômicos que vemos hoje já eram bem conhecidos no tempo de Adam Smith. Como, então, as pessoas podem continuar mantendo políticas públicas errôneas, ano após ano, século após século?

Os economistas da escolha pública estão acostumados a culpar o que chamam de “ignorância racional”. Em eleições com milhões de eleitores, os benefícios pessoais de se aprender mais sobre alguma política são desprezíveis, porque é pouco provável que um voto vá mudar o resultado. Então, por que nos incomodaríamos?

Entretanto, em meu livro, argumento que a ignorância racional tem sido supervalorizada. A ignorância racional não consegue explicar por que as pessoas gravitam em torno de falsas crenças, ao invés de serem simplesmente agnósticas. Também não consegue explicar por que as pessoas que mal tenham pesquisado superficialmente sobre um tema são tão confiantes em seus julgamentos – e até mesmo se enraivecem caso você as contradiga. Por que, para voltarmos ao caso da imigração, as pessoas se convencem que a imigração é desastrosa, e não conseguem manter uma conversa civilizada com alguém que discorde?

A minha visão é que esses são sintomas, não de ignorância, mas de irracionalidade. Na política, como na religião, algumas crenças têm um apelo emocional maior do que outras. Por exemplo, nos sentimos muito melhor quando culpamos estrangeiros por nossos problemas econômicos do que quando culpamos nós mesmos. Isso cria uma tentação para relaxarmos os padrões intelectuais normais e isolarmos as crenças mais populares das críticas – em resumo, sermos irracionais.

Mas por que existem algumas áreas – como a religião e a política – onde a irracionalidade parece ter uma relevância especial? A minha resposta é que a irracionalidade, como a ignorância, é sensível ao preço, e as falsas crenças sobre a política e a religião são baratas.10 Se você subestima os custos de beber em excesso, você pode arruinar a sua vida. Em contraste, se você subestima os benefícios da imigração, ou as evidências em favor da teoria da evolução, o que lhe acontece? É bem provável que aconteça a mesma coisa que aconteceria com você se soubesse toda a verdade.

Então, de certa forma, existe um procedimento por trás da loucura do eleitor médio. Mesmo quando suas visões estão completamente equivocadas, ele recebe o benefício psicológico das crenças políticas de grande apelo emocional a baixo custo. É por isso que “compra” essas opiniões a granel.

Qual é o problema da democracia – e o que é melhor

Infelizmente, o custo social da irracionalidade pode ser bem alto, mesmo que seja benéfico individualmente. Se uma pessoa polui o ar, nós mal percebemos. Se milhões de pessoas poluem o ar, a vida pode ficar bem desagradável. Da mesma forma, se uma pessoa possui uma visão irracional acerca da imigração, nós não percebemos. Mas se milhões de pessoas compartilham dessas opiniões irracionais, políticas danosas socialmente podem vir a prevalecer devido à demanda popular.

Quando as escolhas individuais feitas no mercado possuem efeitos colaterais socialmente danosos, a maioria das pessoas deseja solucioná-lo. No caso da poluição, por exemplo, os economistas geralmente desejam cobrar impostos sobre as emissões, e os não economistas desejam estabelecer padrões de emissão. Poucas pessoas dão de ombros e dizem “a solução para os problemas do mercado é mais mercado.”

Entretanto, quando as escolhas individuais em uma democracia têm efeitos colaterais sociais danosos, várias pessoas dão de ombros e dizem, “a solução para os problemas da democracia é mais democracia.” Se elas desejam soar um pouco mais obstinadas, poderão até citar Churchill: “a democracia é a pior forma de governo, excetuando-se todas as outras que foram tentadas ao longo dos tempos.”11

No entanto, pensando bem, a citação de Churchill em face das falhas da democracia faz tanto sentido quanto dissermos, ao vermos o aumento da poluição do ar, “o livre mercado é a pior forma de organização econômica, excetuando-se todas as outras que foram tentadas ao longo do tempo.” Você pode criticar os mercados ou a democracia – e propor soluções – sem defender o socialismo ou a ditadura. A democracia, como o livre mercado, pode ser limitada, regulada ou subjugada.

Então, que soluções eu proporia para a irracionalidade dos eleitores? Acima de tudo, confiar menos na democracia e mais nas escolhas privadas e nos livres mercados.12 Geralmente, nós nem mesmo perguntamos aos eleitores se nós devemos permitir que discursos impopulares ou religiões existam, e essa prática “elitista” nos salvou de inúmeros problemas. Por que não tirarmos várias questões da agenda? Mesmo que o livre mercado faça um trabalho medíocre, a questão relevante não é se uma regulação inteligente, bem intencionada, seria melhor. A questão relevante é se o tipo de regulação que exerce apelo sobre a maioria seria melhor.

Outra forma de lidarmos com a irracionalidade do eleitor seria uma reforma institucional. Imagine, por exemplo, se o Conselho de Conselheiros Econômicos, num espírito de Suprema Corte, tivesse o poder de invalidar uma lei como sendo “não-econômica”. Similarmente, já que os dados mostram que os eleitores mais bem educados teriam visões políticas mais lógicas13, nós poderíamos imitar a Grã-Bretanha pré-1949, dando aos que possuem ensino superior um voto extra.14

Suspeito que essas – entre outras! – reformas institucionais excêntricas seriam úteis, caso fossem tentadas. Infelizmente, existe um dilema: é improvável que a maioria vote pela redução do poder da maioria. Ainda assim, versões mais suaves dessas reformas podem encontrar algumas brechas. A população tem, em sua maioria, aberto mão do controle da política monetária em favor dos economistas profissionais; talvez a população também estivesse disposta a delegar ao julgamento de especialistas algumas outras áreas. E, embora seja improvável que a maioria aprove os votos múltiplos para os graduados, ela permite aos mais bem educados exercerem uma influência maior, em razão de seu maior comparecimento às urnas. Pode ser politicamente possível aumentarmos ainda mais a influência de fato dos eleitores mais bem educados, gastando menos dinheiro para aumentarmos o comparecimento às urnas.

Apesar disso, no fim das contas, esse dilema significa que talvez seja bem improvável que uma reforma constitucional seja um meio eficiente para monitorarmos a irracionalidade dos eleitores. E o que mais nós temos? Mesmo nos países mais democráticos, os atores políticos possuem um grau de negligência e demasiada “flexibilidade”, por ser sempre possível aos políticos se desviarem um pouco das preferências dos eleitores sem serem removidos do poder. E, para ser direto, se o eleitor médio possui crenças irracionais que o leva a apoiar más políticas, o uso da negligência política para aliviar os danos parece ser o que melhor poderia ser feito. Se o eleitor médio está enganado em relação à imigração, e você tem jogo de cintura para colocar em prática uma anistia, então o faça.

A Suprema Corte pode ser o melhor exemplo de um corpo político com bastante flexibilidade. A justiça vale por toda a vida e é preciso uma emenda constitucional para se derrubar suas decisões. Isso sugere – e a história confirma – que eles detêm um poder significativo para produzirem algo melhor que os resultados democráticos. Se a Corte tem a chance de decidir sobre a constitucionalidade da legislação inspirada em ideias incorretas e anti-mercadológicas, então porque não impedi-la, por violar o andamento dos processos, ou a nona emenda, ou a décima emenda?15 Essa era a essência da chamada “jurisprudência da era Lochner.” Entretanto, dado o que sabemos sobre as inclinações econômicas da população, acredito que devemos a esses velhos juízes um pedido de desculpas.

É claro que não espero que a Suprema Corte ressuscite Lochner em breve. Pelo menos, até onde a economia se estende, os julgamentos atuais, em geral, aceitam a ideia de que devem acatar as concepções da maioria. E, obviamente, não estão sozinhos. A visão dominante, mesmo entre os mais bem educados, é que seria inconveniente questionarmos a competência do eleitor médio. Várias elites vão mais longe, saudando as ideias do eleitor médio, não importa o quanto possam parecer idiotas.

Enquanto as elites persistirem nessa deferência e nessa bajulação em relação à maioria, a contenção dos perigos da irracionalidade dos eleitores será bem difícil. Alguém deve dizer ao imperador que ele está nu. Ele pode não ouvir, mas se ninguém fala, é bem provável que continue se envergonhando e traumatizando os espectadores.

Então, meu remédio final à irracionalidade do eleitor, é para que as pessoas que saibam mais do que o eleitor médio deixem de ser modestas. Quando os especialistas e aqueles que os ouvem se dirigirem a grandes públicos – na mídia, em suas publicações ou em uma sala de aula – precisam se focar nas perguntas em que os especialistas e o público discordam e explicar, claramente, por que os especialistas estão certos e o público está errado. Assim, quando os especialistas chegarem aos ouvidos da população, não devem os importunar com as estatísticas da renda média nacional, ou tergiversar entre si em relação a questões marginais. Devem desafiar os enganos do público em relação ao mercado, aos estrangeiros, à economia de trabalho e ao progresso.

Mas se o público é tão irracional quanto digo, será que isso funcionará? Isso poderá funcionar. A irracionalidade não elimina a possibilidade de persuasão, mas muda o que as pessoas acreditam ser persuasivo. Se as pessoas aceitam crenças, em parte, porque se sentem bem, é importante embrulhar a sua mensagem em um embrulho emocional satisfatório. Cai por terra o “Eu estou certo, você está errado, mude.” Porém, de acordo com minha experiência, “eu estou certo, as pessoas fora dessa sala estão erradas e vocês não querem ser como elas, querem?” fica bem mais persuasivo. Frédéric Bastiat, talvez o maior educador econômico da história, deve ser o nosso modelo. Quem mais poderia fazer uma crítica aos preconceitos econômicos populares não apenas de forma charmosa, mas também engraçada?

Conclusão

Suspeito que vários leitores pensarão que sou insensível em relação à democracia. Sabendo ou não o que estão fazendo, será que as pessoas têm o direito de escolher?

Compreendo quando as pessoas argumentam em favor da auto-escolha. Mesmo se um indivíduo não sabe qual é o seu melhor interesse, acredito que, em geral, deva ser livre para cometer seus próprios erros. O problema com o voto irracional, infelizmente, é que as pessoas que fazem isso não estão apenas “causando danos a si mesmas.” Se o eleitor médio é irracional, todos teremos que enfrentar as consequências.

Na realidade, todo pai pergunta a seu filho, “se todos os seus amigos pulassem de uma ponte, você pularia também?” Tenho uma pergunta que é bem mais difícil para aqueles que se recusam a criticar o entendimento do eleitor médio: “se a maioria das pessoas dissesse que deveríamos pular de uma ponte, você empurraria aquelas pessoas que se recusassem a pular?

Notas

  1. Ver e.g. Wittman, Donald. 1995. The Myth of Democratic Failure: Why Political Institutions Are Efficient. Chicago: University of Chicago Press; Persson, Torsten, e Guido Tabellini. 2000. Political Economics: Explaining Economic Policy. Cambridge: MIT Press; Drazen, Allan. 2000. Political Economy in Macroeconomics. Princeton, NJ: Princeton University Press; e Page, Benjamin, e Robert Shapiro. 1992. The Rational Public: Fifty Years of Trends in Americans’ Policy Preferences. Chicago: University of Chicago Press. 

  2. Ver Kraus, Nancy, Torbjörn Malmfors, e Paul Slovic. 1992. Intuitive Toxicology: Expert and Lay Judgments of Chemical Risks. Risk Analysis 12(2): 215-32; e Lichter, S. Robert, e Stanley Rothman. 1999. Environmental Cancer – A Political Disease? New Haven, CT: Yale University Press. 

  3. Outra possibilidade é comparar as visões de leigos que pontuam bem em testes de conhecimento político com as de leigos demograficamente semelhantes que pontuam mal. Esta é a abordagem padrão na literatura de ciência política sobre “preferências iluminadas”. As descobertas desta literatura são bastante compatíveis com as minhas; para uma pesquisa abrangente, ver Althaus, Scott. 2003. Collective Preferences in Democratic Politics: Opinion Surveys and the Will of the People. Cambridge: Cambridge University Press. 

  4. Aqui é uma visão geral. Para aprofundamento acadêmico, ver e.g. Caplan, Bryan. 2002. Systematically Biased Beliefs About Economics: Robust Evidence of Judgemental Anomalies from the Survey of Americans and Economists on the Economy. Economic Journal 112(479): 433-58; Caplan, Bryan. 2002. Sociotropes, Systematic Bias, and Political Failure: Reflections on the Survey of Americans and Economists on the Economy. Social Science Quarterly 83(2): 416-435; e Caplan, Bryan. 2001. What Makes People Think Like Economists? Evidence on Economic Cognition from the Survey of Americans and Economists on the Economy. Journal of Law and Economics 44(2): 395-426. 

  5. Como esses padrões podem ser tão nítidos, dada a tendência lendária dos economistas de discordar uns dos outros? A resposta é simples, é de que existe muito mais consenso do que aparenta. A cultura popular cria uma falsa impressão porque é mais divertido assistir a uma discussão de especialistas do que vê-los concordar; e, de qualquer forma, uma vez que os economistas chegam a um entendimento comum, eles passam para novos tópicos. 

  6. Para um debate de duas rodadas entre mim e um dos principais defensores da racionalidade do eleitor médio, veja aqui e aqui

  7. Para uma visão geral, ver Sears, David, e Carolyn Funk. 1990. Self-Interest in Americans’ Political Opinions. Em Mansbridge, Jane, ed. 1990. Beyond Self-Interest. Chicago: University of Chicago Press: 147-70; Citrin, Jack, e Donald Green. 1990. The Self-Interest Motive in American Public Opinion. Research in Micropolitics 3: 1-28; e Caplan, Bryan. 2001. Libertarianism Against Economism: How Economists Misunderstand Voters and Why Libertarians Should Care Independent Review 5(4): 539-63. 

  8. Para uma discussão mais aprofundada, ver Caplan, Bryan. 2003. The Logic of Collective Belief. Rationality and Society 15(2): 218-42; e Caplan, Bryan. 2001. Rational Irrationality and the Microfoundations of Political Failure. Public Choice 107 (3/4): 311-31. 

  9. Sobre os efeitos fiscais da imigração, ver Lee, Ronald, e Timothy Miller. 2000. Immigration, Social Security, e Broader Fiscal Impacts. American Economic Review 90(2): 350-4; e Simon, Julian. 1999. The Economic Consequences of Immigration. Ann Arbor, MI: University of Michigan Press. 

  10. Para uma discussão mais aprofundada, ver Caplan, Bryan. 2001. Rational Ignorance versus Rational Irrationality. Kyklos 54(1): 3-26. 

  11. Eigen, Lewis, e Jonathan Siegel, eds. 1993. The Macmillan Dictionary of Political Quotations. NY: Macmillan Publishing Co.: 109. 

  12. O comentador Ian Shapiro negou repetidamente que esta seja uma opção coerente. Ver Shapiro, Ian, e Casiano Hacker-Cordón. 1999. Reconsidering Democracy’s Value. Em Shapiro, Ian, e Casiano Hacker-Cordón, eds. Democracy’s Value. Cambridge: Cambridge University Press: 1-19; Shapiro, Ian. 1999. Democratic Justice. New Haven, CT: Yale University Press; e Shapiro, Ian. 1996. Democracy’s Place. Ithaca, NY: Cornell University Press. Eu critico os argumentos de Shapiro em meu próximo livro. Se ele quiser dar continuidade a esse assunto, ficarei feliz em continuar durante a fase de discussão. 

  13. Em What Makes People Think Like Economists?, estimo que cada etapa da educação em uma escala de 1 a 7 tem 9,3% mais efeito sobre as crenças econômicas comparado a um doutor em economia. 

  14. Como Speck explica, “os graduados puderam votar em candidatos em doze universidades além daqueles em seus próprios círculos eleitorais, e os empresários com instalações em um distrito que não seu próprio domicílio podiam votar em ambos”. (Speck, W.A. 1993. A Concise History of Britain, 1707-1975. Cambridge: Cambridge University Press: 175). 

  15. Ver e.g. Barnett, Randy. 2004. Restoring the Lost Constitution: The Presumption of Liberty. Princeton, NJ: Princeton University Press; e Macedo, Stephen. 1987. The New Right v. the Constitution. Washington, DC: Cato Institute.