Livre mercado não significa ser pró empresas

Free Market Doesn't Mean Pro-Business · Tradução de Matheus Pacini
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Uma agenda de “livre mercado” é a mesma coisa que uma agenda “pró empresas”? Economistas da linha libertária se veem frustrados com tal fato, pois o nosso entusiasmo pelos mercados livres é frequentemente mal entendido como entusiasmo por certas formas de empresas ou interesses corporativos. No entanto, somente porque algo é bom para a empresa General Motors não significa que é necessariamente bom para os Estados Unidos.

Eu proponho que se renuncie à fusão retórica dos termos “pró empresas” e “livre mercado”. Ou, pelo menos, nós deveríamos entender a diferença entre os dois. Uma das principais características do livre mercado é que é um sistema de lucro e prejuízo. A parte “livre” do “livre mercado” significa entrada e saída livre. Em uma economia de mercado, você está livre para obter e desfrutar grandes lucros como justa recompensa por ter aceitado o mundo como o encontrou e produzido algum tipo de novo produto ou serviço que torna o mundo melhor. No linguajar dos economistas, você obtém lucros através da criação de riqueza.

Ao mesmo tempo, você é livre para sofrer grandes prejuízos como justo castigo por ter aceitado o mundo como o encontrou e produzido alguma coisa que torna o mundo pior. Em outras palavras, você tem prejuízo quando você destrói riqueza e desperdiça recursos.

Aqui invoco a primeira Lei da Economia Política de meu amigo Steven Horwitz: “ninguém odeia mais o capitalismo do que os capitalistas”. Matt Ridley explica bem tal fato no seu recente livro The Rational Optimist, e eu concordo com ele:

Eu não defendo grandes corporações, cujas ineficiências, complacências, e tendências anticompetitivas frequentemente me enlouquecem como a qualquer outra pessoa. Como Milton Friedman, eu notei que ‘as corporações empresariais em geral não são defensoras da livre iniciativa. Ao contrário, elas são as principais fontes de perigo’. Elas são viciadas no bem-estar corporativo, elas amam regulamentações que erigem barreiras à entrada de pequenos competidores, elas anseiam por monopólio e elas se tornam débeis e ineficientes com o tempo.

Considere os seguintes cenários e perguntem quais seriam os resultados possíveis das visões “pró empresas” e de “livre mercado”:

1. Uma empresa privada deseja um terreno sobre o qual construir um hotel, um armazém, um Shopping Center e um edifício empresarial. A solução “pró empresas” é se apropriar da terra via domínio eminente e argumentar que a maior arrecadação de impostos decorrente é de benefício público (se a maior arrecadação de impostos for o nosso padrão, por que não forçamos a participação da força de trabalho e fazemos todos venderem suas propriedades para interesses especiais?). A solução do livre mercado seria: “se o proprietário vender a você, é seu, mas não espere ser capaz de conseguir que oficiais do governo armados tomem-na para você.”

2. Uma empresa privada está tendo dificuldades financeiras para se manter. Ela produz um produto que ninguém quer comprar. A solução “pró empresas” é aumentar os impostos e repassar as receitas às companhias ou emprestá-las com um taxa de juros reduzida. A solução do “livre mercado” seria: “ou você melhora no que está fazendo, ou sai do caminho daqueles que podem”.

3. Uma empresa privada encara concorrência de produtores internacionais. A solução “pró empresas” é regular e taxar os produtos internacionais tornando-os mais caros em relação aos produtos nacionais. A solução do “livre mercado” seria: “melhore no que você está fazendo, ou libere os recursos sob seu controle para aqueles que podem melhor servir aos consumidores”.

As soluções do “livre mercado” parecem duras? Talvez. É cruel deixar o destino de uma empresa às vicissitudes da competição no mercado? Eu não acho. No livre mercado, as pessoas competem para ver quem pode melhor contar com a cooperação alheia. O governo, por outro lado, utiliza-se da ameaça da violência. Se nós formos usar o governo para proteger uma empresa, nós podemos somente fazê-lo ameaçando usar a violência contra os potenciais competidores.

Eu ensino economia e escrevo para diferentes sites da internet. Se eu fosse me insular da competição externa através da contratação da máfia para prevenir potenciais economistas estrangeiros de ministrar disciplinas que compitam com as minhas ou de escrever artigos que compitam com os meus, isso seria um ato criminoso. Troque “ministrar aulas” para “produzir automóveis”, “máfia” por “governo”, e “economistas estrangeiros” por “empresas automobilísticas estrangeiras” e você tem a política industrial norte-americana.

No livre mercado, você é bem-vindo, e verdadeiramente encorajado, a entrar na indústria de ratoeiras se você pensa que pode construir uma ratoeira melhor ou encontrar uma forma de fazer ratoeiras similares mais eficientes. O outro lado da moeda é que você será encorajado a deixar a indústria de ratoeiras se, ao final, a sua ratoeira não for melhor, mas inferior à da concorrência.

Uma agenda de “livre mercado” não é a mesma coisa de uma “pró empresas”. As empresas não deveriam ser protegidas da competição, prejuízos, e falência quando elas falham no atendimento ao consumidor. Todas as três são essenciais ao livre mercado e à livre iniciativa.